segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Ninja Gaiden - A saga mais difícil do nes... dos games



Quando eu era moleque achava que Battletoads in Battlemaniacs era o jogo mais difícil que existia. Hoje percebo que estava enganado. Sabia sim que existia outros jogos difíceis, mas não tanto quanto ou mais. Agora, homem feito e com maturidade suficiente para saber o que é um desafio de verdade, vejo que a trilogia para nes do Ninja Gaiden é a franquia de games mais difícil de todas, incluindo aí todos os consoles, até os dos dias de hoje. Jogos atuais são fáceis demais, direcionados para uma geração que não gosta de suar a camisa e que deixaria de se interessar por grandes desafios, dada a oferta de muitas opções disponíveis. Antigamente a molecada era mais engajada, mesmo em se tratando de diversão descompromissada como os jogos de videogame. Tenho revisitado essa clássica série do Nintendo 8 bits já há algum tempo, dessa vez através de roms e emulador, e apesar de usar e abusar dos ´´saves`` sem o menor remorso por considerar um direito merecido em se tratando de jogos tão traiçoeiros, demorei um bocado para finalizar. Porém, só recentemente consegui terminar o segundo título, The Dark Sword of Chaos, isso depois de desistir e retomar várias vezes. A dificuldade, apesar de muitas vezes diminuir o desejo de jogar e fazer a gente passar raiva, não desmerece o valor da série, muito pelo contrário, o alto grau de desafio simplesmente a torna um grande clássico do nes ao lado de Mario Bros, Mega Man e Castelvania. Não só o desafio como tudo no jogo é bem trabalhado, como os efeitos sonoros, a trilha sonora das fases, passando pelo chefe de fase até a derrota, tudo é bem empolgante e envolvente. O gráfico então, para a limitação de paleta e dos bits do console, era muito bonito e conseguia passar para o jogador toda a ideia do que se tratava o lugar, a composição das fases e a atmosfera dos cenários, todos eles variados e com temas diversos, tinha fase no céu, no gelo, lava, cavernas, passagens subterrâneas, etc. Como todo ninja que se preze o personagem principal lutava com sua tradicional espada, mas ia coletando armas e equipamentos no caminho que o ajudava a lidar com os inimigos, como shurikens, bola de fogo e até mesmo itens que aumentava o poder de alcance de sua espada e danos que ela causava. A partir do segundo jogo o ninja podia adquirir sombras que funcionavam como suas cópias fiéis em combate com os vilões, e a quantidade de cópias não era econômica caso o herói soubesse pegar os itens certos, e o melhor de tudo, elas nunca morriam caso nada acontecesse ao ninja original. Pela dificuldade de sua jornada as sombras eram indispensáveis, mesmo assim conseguiam me irritar um pouquinho, algumas vezes me confundiam a ponto de eu não saber mais quem era o herói que eu controlava e quem eram suas cópias, e isso me custava pontos de energia e muitas vidas, além de as informações visuais tornarem a imagem, digamos assim, mais poluída (poluição visual, aliás, é uma grande característica das fases, todas repletas de inimigos que não cessam de surgir de tudo que é lugar). Nosso ninja é perito em muitas habilidades, como não podia ser diferente, pulava alto, andava correndo, se pendurava na parede, e a partir do segundo jogo ele podia escalar. A única habilidade que ele não adquiriu foi a de nadar, sim, nosso ninja forte e habilidoso simplesmente morria afogado.


 Mas o que eu mais gostava eram os inimigos. Era tanta criatividade, tanto vilão bizarro, que mesmo hoje em dia nunca conheci uma série de games que tivesse vilões tão ricos e diversificados. E eles não obedeciam um padrão, não eram apenas guerreiros humanos, nem apenas monstros, nem apenas robôs, era tudo misturado, dos simples inimigos aos chefes de fase, não necessariamente tinham a ver um com o outro, e suas técnicas de ataque e armas utilizadas conseguiam ser coisas à parte independente do tema, do cenário, e do clima proposto. Era uma coisa de louco. Se existisse uma coleção de bonecos com personagens do game aposto que seria bem interessante, a molecada ia pirar, sendo que mesmo nós adultos, que éramos crianças na época, nos encantamos até hoje com os personagens.




 Mitologia do personagem


Muita gente pode não saber, mas foi essa série da Tecmo a pioneira na inserção de cut scenes nos jogos de videogame, ou seja, cenas narrativas próprias de filme entre um estágio e outro, explicando toda a história e a motivação do herói. Quando criança não tive a menor paciência de acompanhar, as cenas eram compridas e tinham realmente vontade de oferecer ao espectador a experiência de acompanhar um longa de animação, mas hoje, adulto centrado, paciente e com maior poder de concentração, decidi dar uma chance, e assim tomei conhecimento de que nosso ninja é na verdade Ryu Hayabusa, um dos últimos descendentes de um clã de ninjas, e sua história cheia de reviravoltas envolve aliados como um arqueólogo, uma agente da CIA (e futuro interesse amoroso de Ryu) e um atirador profissional, contra demônios nascidos do próprio ódio, Jaquio, Ashtar, Foster e Clancy. Finalizar todos esses jogos, depois das inúmeras tentativas frustradas, das raivas passadas, das horas, dias e meses perdidos, da trolagem dos programadores de fazerem você repetir uma fase inteira depois de morrer e de outras até piores, que fazia você percorrer uma fase que já era dificílima pelo inverso, nos dá uma satisfação enorme, uma sensação profunda de dever comprido, e de que você é páreo para desafios duros e complexos que envolve agilidade psíquica e motora. Imagino que uma criança que conseguisse zerar qualquer titulo desses jogos (e sem save, por sinal), poderia ser considerada super dotada e mereceria ser estimada.




Versões além do nintendinho 8 bits


Antes de seu bem sucedido port para nes em 1989, o jogo não rendeu bons frutos em seu tempo de arcade, sendo considerado por muitos uma cópia traumatizante de Double Dragon, hit da época. Depois de uma reformulação, aliás, uma reinvenção, pois de reformulação não tinha nada, tendo em vista que a versão de arcade pouco tinha a ver com a de nintendo 8 bits, o jogo caiu no gosto dos gamers da época e seu sucesso continuou até sua terceira edição, The Ancient Ship of Doom, de 1991. Nesse meio tempo foram produzidas versões para Master System e Game Boy, mas sem dúvida nenhuma as melhores foram as de nes, a franquia parece ter nascido para esse console. Pena não terem feito na época uma versão para Super Nes, com a mesma jogabilidade e mesmos conceitos, provavelmente seria um de seus melhores jogos, mas em vez disso lançaram para ele, em 1995, um cartucho contendo a trilogia completa, e o melhor, sem mexerem em nada no aspecto original, se muito apenas refinaram os pixels, deram uma realçadinha na cor e nos sons e só. Presentaço para os retro gamers da época. Teve uma época que descobri uma rom atribuída ao Mega Drive do nosso querido ninja azul, e achei uma coisa decepcionante, não por o jogo ser ruim, mas por em pouca coisa lembrar o Ninja Gaiden que estávamos acostumados. Era mais um beat up estilo sua versão de arcade mesmo, jogabilidade fraca e inimigos sem graça. Por sorte, descobri mais tarde que tratava-se de apenas um protótipo que nunca foi lançado, jogado na net de maneira clandestina, uma versão cheia de bugs por sinal, que dava a entender que o jogo realmente não tinha sido completado.

Em 2004 foram lançados novos títulos para XBox, Playstation 3, XBox 360 e Wii U, mas é aquela história, nunca vi nem comi, quem sabe mais para frente eu me interesse em conhecer, mas vendo imagens e gameplays tenho na consciência que as versões para Nintendo eram de fato insuperáveis. Mesmo com aqueles gráficos pixelados e datados, duvido que outra versão fosse mais badass que aquelas.