sábado, 2 de novembro de 2019

ÉRAMOS SEIS NA GLOBO É UMA GRANDE DECEPÇÃO


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Sempre que fazem um remake de filme, seriado ou qualquer outra coisa de uma obra que já era boa em seu tempo, me pergunto o que é necessário fazer, se é melhorar, dar uma outra visão, reciclar para os padrões dos dias atuais ou conquistar novos públicos, além de continuar lucrando em cima dela. Provavelmente é uma mistura de todos esses fatores, e parece que nos dias atuais a audiência é menos exigente, os tempos são outros, temos agora concentração de peixinhos dourados, e com isso o conceito artístico é deixado de lado e o que vale mesmo é a audiência alta, o que dá lucro, aproveitando o tempo, o espaço e o momento exato na vida desses espectadores para enfim lhe ser apresentado. É exatamente essa a certeza que temos com relação ao segundo remake da novela Éramos Seis, adaptação televisiva de Rubens Ewald Filho e Sílvio de Abreu para o romance de Maria José Dupré. É de imaginar que os problemas comecem a partir daí, pois poderíamos esperar uma outra adaptação, por novos autores, do mesmo romance, e não apenas mais um remake, mas, como a audiência está sendo boa, ainda mais em se tratando do horário em que é exibida, a novela pode sim ser considerada um sucesso, por mais que possa desapontar alguns espectadores mais velhos. Apesar de se tratar de um romance de época o livro não fica preso no tempo, o cotidiano de uma família tradicional que enfrenta problemas de relacionamento, dinheiro, mudanças, conflitos e problemas sociais funcionam para todas as épocas, sem deixar de lado questões importantes da história de São Paulo como a revolução constitucionalista iniciada em 32, além do comecinho da segunda guerra na qual também tivemos nossa participação, fazendo a história se tornar ainda mais importante por seus elementos históricos. Como admirador da obra desde a infância encontrei alguns pontos que não me pareceram pertinentes nessa nova adaptação que aqui citarei, mas já ciente que talvez não pudesse ser diferente, levando em conta que, se imaginássemos a carga dramática que a versão de 94 teve, a novela se adequaria mais à faixa das nove, não das seis, onde as novelas da Globo tendem a ser mais amenas e divertidas. No caso, sendo a Globo essa fábrica que é, seria apenas ´´mais uma`` novela, enquanto no SBT foi ´´A`` novela.

Antes de mais nada, devemos lembrar que o problema não são os atores. Ao menos os atores principais. Glória Pires e Antonio Calloni sustentam bem o que deveria ser o núcleo principal. Enquanto tem uns bons, mais ou menos, tem outros bem péssimos, mas sem dúvida nenhuma o pior de todos é Kiko Mascarenhas, cujo núcleo familiar teve sua importância consideravelmente reduzida nessa nova trama. Cássio Gabus Mendes está muito bem em seu papel, assim como seu núcleo, algumas mudanças foram bem vindas e ajustadas com competência, mas no que deveria ser o núcleo principal, o que dá nome à trama, muito se tem a desejar. Os atores que fazem as crianças foram muito mal escolhidos, não conseguimos enxergar nenhum talento promissor como Caio Blat mostrava ser em sua época. O SBT desde sempre teve a tradição de exibir novelas infantis, talvez por isso investissem tanto no elenco infantil, dando papéis de destaque, boa direção e excelente trabalho de atores às crianças, deixando a novela atraente para todos os públicos. Nessa nova versão o elenco infantil é deixado em segundo plano, fica difícil torcer por eles em sua segunda fase, já adultos, se não tivemos a menor identificação por eles. O destaque mesmo, em sua versão televisiva, ficaria por conta do personagem Alfredo, filho rebelde e problemático do casal principal. Wagner Santisteban conseguiu fazer um típico garoto problemático, quase vilão, diferente da versão atual, que chegou atrasado, em uma época onde o politicamente correto não permite grosserias e mal criações desmedidas na televisão, por mais que esteja presente em grande parte das famílias atuais, a começar pelo olhar sereno do ator mirim que mais lembra o personagem Frodo, de O senhor dos Anéis, diferente da mágoa contida que devia expressar. Tudo acabava em arrependimento, culpa e conciliações, e dentro de um curto período de tempo, sendo que na vida real tudo provavelmente seria diferente. As cenas das crianças brincando na rua, as bagunças, ou são mal dirigidas ou foram totalmente podadas, não dando espaço para se retratar a infância dos quatro meninos com as outras crianças. Lembrando também que nessa versão as crianças são maiores, o menino caçula já tem uns onze anos, quando na versão anterior não devia ter mais de oito. Mas, respeitando o livro, Isabel é de fato a mais nova de todos, e para não ficar só nas reclamações, a atriz que faz a Isabel, Maju Lima, é uma graça e a melhor estrela mirim até então.

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Contudo, o problema fica mais por conta de sua direção e roteiro. Os demais personagens cumprem bem seu papel, com destaque a Eduardo Sterblitch em sua primeira participação em novelas. E a novela tem seus pontos altos, como boa direção de arte, figurino e fotografia, como a rede Globo bem sabe fazer, assim como uma trilha sonora muito bem escolhida e o ´´fan service`` da participação de Othon Bastos, o seu Júlio da versão anterior, como o padre Venâncio. Mesmo assim, ela funciona mais para quem não conhece ou não lembra direito da versão de 94, onde era tudo era bem mais mexicano e de direção caprichada. Agora, tudo é mais dinâmico, com cenas fáceis de serem esquecidas, sem a profundidade, sem a densidade, que um certo seu Júlio encarava a família e seus problemas no trabalho, seus ralhos com a prole e discussões com a esposa, dessa vez mais firme e menos submissa que outrora. Mesmo assistindo com toda boa vontade, as cenas que me deixaram frustrado por não terem sido devidamente aproveitadas não foram poucas, poderiam ser mais trabalhadas para serem inesquecíveis, e isso independente da idade da pessoa que assiste. Fica bem mais fácil comprar a versão anterior como a mais condizente com a realidade de uma família grande. O que vemos agora é tudo bem plastificado e artificial.

A novela já vai para a segunda fase e ainda não encontrei nada que justificasse eu estar assistindo além de puro nostalgismo. Continuarei dando uma chance, vai que de repente sou surpreendido por algum ponto diferente não abordado na última versão, ou questões a voltarem a ser discutidas em outra época além daquela, com outro olhar, outra perspectiva. De qualquer maneira, gostando ou não, a novela vem conquistando uma audiência boa, e na verdade isso é o que realmente importa para a Rede Globo de televisão.