terça-feira, 12 de março de 2019

Agente Cãofidencial - Gibi esquecido na década de 90



Tenho uma certa pena em lembrar de desenhistas de quadrinhos nacionais que tinham de tudo para ir para frente com publicações interessantes, mas por falta de nicho de mercado acabam tentando outra coisa. Tudo bem que os tempos são outros e hoje em dia não consumimos mais impressos como antes, mas pelo menos podia ter alguma coisa online que chamasse atenção, e-book, quadrinhos em PDF, para download, essas coisas, mas ninguém quer arriscar, afinal, tempo é dinheiro e nem todo mundo vive só de arte. Nesse sentido, os anos 90 tem muito a nos fazer recordar, essa que talvez seja a década de maior prestígio do mercado de quadrinhos brasileiros, mas também a que o encerrou de vez. Tivemos ótimos roteiristas, desenhistas, e um que especialmente lembro hoje é Marcelo Cassaro. Esbarrei com alguns de seus trabalhos em sua época de Abril Jovem, títulos como Zé Carioca e Heróis da TV, porém, só bem mais velho fui ligar o nome ao autor. Entre suas publicações tinha um título avulso de uma revista que me encantou do início ao fim, com personagens carismáticos, histórias originais e muitas páginas, tudo bem criativo que prometia uma longínqua série de sucesso. Contudo, não saiu do primeiro número. A revista em questão é Agente Cãofidencial, paródia declarada de 007 com personagens caninos que compunham uma equipe de super heróis. Além do protagonista James Hound consigo me lembrar do professor Hexo, um cão robô, Bronto, um cachorro que parece um dinossauro, um ninja, um soldado e um cachorro em seu formato mais animal com uma coleira tecnológica cheia de aparatos que a fazia lembrar o Bat-Cinto. Tinha também os vilões, a maioria bem atrapalhada, que mantinha seu rosto ocultado sob um capote. Era uma publicação voltada às crianças, mas os roteiros das histórias eram inteligentes e bem elaborados, cheios de citação a artistas e obras de renome da cultura pop, como Stan Lee e Pac-Man, clássico dos arcades oitentistas. Podemos dizer que Agente Cãofidencial é um projeto que carregava o DNA de Marcelo Cassaro, ele fazia o argumento e as artes, mas eu não saberia dizer com certeza se os personagens eram todas suas criações. De qualquer modo uma revista tão boa como aquela, que enchia de orgulho o mercado brasileiro de quadrinhos, foi tão pouco divulgada e hoje em dia quase ninguém lembra, e isso chega a doer um pouco. Acredito que ainda há tempo para se fazer uma sequencia, um spin off com os heróis, um relançamento que seja, uma publicação de luxo nas livrarias com a história dos personagens e de como nasceu o projeto. Insisto em dizer que os personagens e as histórias merecem ser conhecidos, a composição torna a publicação inesquecível para quem a conheceu, a fórmula funciona hoje em dia tão bem quanto nos anos 90, e acredito que não só para as crianças. É o tipo de revista que faz quem a conhecer ter a certeza que Marcelo Cassaro é um artista digno de respeito, e que merece toda a sorte do mundo para seus projetos, seja lá o que ele esteja fazendo nesse momento.