terça-feira, 20 de novembro de 2018

Lion Man Branco - Melhor roteiro, mas não mais querido por nós


Sabemos que tokusatsu é coisa de criança, e que por essa razão é totalmente compreensível que as produções atuais sejam bobinhas e sem graça. Mas nem sempre foi assim. Voltemos nosso olhar aos longínquos anos 70, onde o gênero começava a ganhar força de vez, muito além das produções da Toei Company. Ultraman, Spectreman, e é claro, Lion Man, ´´universo`` um tanto pequeno, mas sua versão laranja ainda hoje é querida por nós brasileiros. Só que é injusto não lembrarmos de sua versão albina, que embora tenha passado por aqui depois de Fuun Lion-Maru (sua versão laranja), foi seu predecessor em seu país de origem. Lançado em 1972 no Japão pela P-Production, Kaiketsu Lion-Maru tinha um roteiro muito bom para um seriado tokusatsu, assistindo hoje temos a prova que as séries antigas eram as melhores. O homem por trás do heróico felino é o mesmo Shishimaru que tínhamos conhecido, curiosamente sua origem é outra, embora o ator seja o mesmo. Ao menos em sua primeira versão sua origem é explicada. Dessa vez ele não é um herói solitário, ele luta e caminha ao lado de seus irmãos de criação, Saori e Kosuke, jovens orfãos dos ataques do demônio Gosum e seus ninjas negros, acolhidos pelo mestre Kashin Koji, que pouco antes da sua morte entrega para Shishimaru uma espada que lhe confere o poder de se transformar em um homem leão, cheio de garra e habilidade, para Saori uma espada que equipara sua força e habilidade a de um guerreiro, mas sem esquecer de avisar que ela não podia deixar sua ´´formosura e feminilidade`` de lado. Aff. Já o menino Kosuke, o mais novo dos três, ganha uma flauta mágica com o poder de evocar o espírito do velho guerreiro, que chega na forma de um pégaso para ajudar os amigos a se livrarem do perigo. O seriado conta com 54 episódios, foi um grande sucesso na época em sua terra de origem, tudo levava a crer que uma segunda temporada seria muito bem recebida, mas infelizmente não foi isso que aconteceu. Sua sequencia, que nem é tão sequencia assim devido às diferenças gritantes e bizarras entre as duas séries, rendeu apenas 25 episódios. É interessante pensar que quando a sequencia estreou por aqui no finzinho dos anos 80 ao lado de Jiraya, O Incrível Ninja, as crianças da época não reparavam que o seriado era antigo assim. Muito menos que tinha sido um fracasso, que provavelmente foi adquirido pela Top Tape a preço de banana, pois o seriado era uma novidade interessante. E esses míseros 25 episódios, repetidos exaustivamente como de praxe na época, não deixavam perceber que a trajetória de Shimarú (a tradução por aqui, por motivos óbvios) tinha sido tão curta. Ora, hoje sabemos que algumas séries e animações de nossa época tinham números de episódios ainda mais limitados sem nos deixar essa impressão.  Quando Lion Man branco estreou por aqui, todo mundo achou que fosse uma continuação direta do Laranja, um ´´novo`` Lion Man, mas devo dizer que a novidade não me conquistou tanto. As histórias eram mais densas, dramáticas, talvez por isso uma criança de oito anos, a idade que eu tinha na época, não se interessasse tanto. Recentemente, assistindo a série até o final, percebo que o conteúdo vai além do que deveria ser considerado uma simples série infantil, tanto que me empolguei a cada episódio, mesmo que a estrutura do roteiro apresentasse algumas deficiências. Passada na época do Japão feudal, nos tempos dos samurais, a história se desenvolve em uma terra sem lei, um mundo sombrio cada vez mais ameaçado pelo domínio do demônio Gosum e seus aliados. As cenas de ação, de lutas com espadas, embora não muito bem coreografadas, expressam bem o espírito de um autêntico filme de samurai, como Zatoichi, por exemplo, mesmo não havendo sangue, o que não podia ser diferente. Os monstros, demônios de Gosum, não pecam pela falta de crueldade, mesmo com velhos, mulheres e crianças. Ao contrário do que ocorreu em seu país de origem, essa versão não fez sucesso por aqui, houve rejeição por parte do público e apenas dez ou quinze episódios foram exibidos. Não lembro se em ordem cronológica ou de maneira aleatória. Mesmo assim, acredito ter conquistado um aspecto cult entre os mais velhos que assistiam a programação da Manchete naquela época, que só hoje em dia, graças a Internet, pôde dar uma conferida no restante do conteúdo nada decepcionante para quem começou a série já gostando. Lembro de uma vez, em determinado episódio do Lion Man laranja, ter aparecido sua versão albina entregando a espada que lhe conferia a mutação de leão a um Shimaru derrotado, sem sua tradicional espada. Uma visita dos céus de um antepassado já extinto, apadrinhando e passando o bastão a seu sucessor, antes mesmo de conhecermos mais a respeito desse personagem, soando mais como um prequel do que como qualquer outra coisa. Épico!



Diferenças entre as duas séries

Se Kaiketsu Lion-Maru tem um roteiro e visual mais maduro, o mesmo não acontece com Fuun Lion-
Maru. A gente percebe a mudança das cores para tons mais berrantes, mais chamativos. Os objetos cênicos com mais cara de brinquedo (o transformador foguete, por exemplo), e mais personagens e heróis, como Yoba/ Jaguar, além de perder o clima sombrio da série anterior, apesar da história continuar densa e dramática e os vilões continuarem perversos. Podemos perceber a tentativa de dar uma cara mais infantil ao seriado, embora tivessem errado a mão a ponto de o tornarem um fracasso. Contudo, o seriado tem seus méritos e acredito que deveria sim ter sido produzido. Começado do zero, com elementos, origens e história diferente, uma coisa ou outra faz menção ao seriado anterior, vemos tentativas de homenagens e substituições do que o público japonês já estava acostumado a ver em sua versão albina, mesmo que certas coisas fizessem falta e não tivessem sua devida reposição, como o cavalo alado Hikari Maru. O motivo que levou as duas séries serem exibidas de forma trocada por nossa terra ainda não é explicado, provavelmente porque o Lion Man laranja tinha mais cara de leão e consequentemente foi mais fácil assimilarmos o herói felino. Sua versão albina de fato tinha mais cara de ser um personagem do Japão mesmo, mais regional, sendo ele inspirado no folclórico Kagami Jishi (O Leão do Espelho), personagem do teatro Kabuki.

Tiger Joe


Personagem importante das duas versões, Tiger Joe é um anti herói que todos aprenderam a amar. A princípio aliado do demônio Gosum, rival de Shishimaru, egoísta e orgulhoso, aos poucos torna-se um importante aliado. Perdeu um olho já na primeira luta com o herói leão. O personagem foi interpretado por dois atores diferentes, o primeiro teve um fim trágico após uma embriaguês, o segundo ficou até o final da série onde seu personagem foi derrotado e morto pelas mãos de um demônio de Gosum. Na série seguinte o personagem retorna, uma coisa curiosa, pois seu personagem havia sido morto. No entanto, o personagem é apresentado como Tiger Joe Jr, apesar de ser o mesmo ator, e o pior, ele ainda usa o tapa olho característico do Tiger Joe (Jyonosuke), sua versão em Kaiketsu Lion-Maru. Mas depois de tanto tempo, o que importa mesmo é que esse carismático personagem acaba aparecendo, de um jeito ou de outro, na versão que pudemos acompanhar na infância, sem prejuízo.



Ainda há mais uma versão de Lion Man, e bem recente, por sinal. Em 2006 foi produzida a série Lion Man G. Se as outras séries se passavam no Japão feudal, essa aqui se passa inclusive no futuro da época, 2011, e o herói transformado passa a ser chamado como alguma coisa tipo ´´Gigolô Guerreiro (!) `` Esse ainda não assisti, mas já vou assistir com ressalva, pois ouvi falar muito mal dessa série.