terça-feira, 28 de agosto de 2018

Desenhos pouco valorizados: Homem Aranha, a animação clássica


Nem todos os desenhos, por mais que sejam bons, são lembrados por gerações. É o caso da animação do Homem Aranha da segunda metade dos anos 90, produzida pela já extinta Marvel Films Animation. O Aranha já teve outras animações, mas sem dúvida essa é a mais injustiçada de todas, que embora tenha feito sucesso em seu país de origem, rendendo a sequencia Ação Sem Limites, essa sim um caça níquel merecidamente flopado, já não é mais lembrada em nossa terra, menos ainda revisitada, diferente do que acontece com a animação do Bat Man da Warner Bross Animation. Difícil imaginar o porquê, o roteiro é bem elaborado para uma animação infantil, os personagens são fiéis às outras mídias, e a série toda foi supervisionada pelo próprio Stan Lee. O que consola é saber que o Aranha é um personagem ativo, bastante explorado em outras produções, e para a geração atual, que de certo não ouviu falar muito dessa animação, ao assisti-la vai ter a sensação de descobrir um produto genuinamente novo do herói. Vamos aos pontos que fazem a série se tornar especial para uns e esquecível para tantos outros:




Heróis: Muitos personagens do universo Marvel aparecem na animação. Os X-men participam de dois episódios, e o traço dos mutantes está bem, digamos, diferente do de sua própria animação, e isso causou um certo estranhamento. O que consegue causar ainda mais é os nomes dos personagens inventados na dublagem, e isso foi digno de revolta. Wolverine virou Lobão e Fera virou Animal, com certeza a direção de dublagem teve preguiça de se informar sobre os heróis e não leram um gibi sequer. Essa sequencia de episódios faz parte de um arco em que o Aranha sofre uma espécie de alteração em seu gene e sente estar se transformando em um mutante. Ainda com relação aos nomes absurdos inventados para os heróis, Demolidor virou Atrevido (de onde será que vieram ideia para esses nomes toscos?), mas essa alcunha foi compensada pela mais interessante participação que o Homem sem Medo já teve em uma série animada, e Justiceiro virou Vingador, e mais tarde Carrasco, mas também perdoamos só pelo fato de ele ter aparecido em uma participação respeitosa dentro de um contexto mais inocente da própria série, com direito a sequencias de tiroteio com armas de fogo em vez das habituais armas laser, recurso comumente usado em produções animadas. Também marcaram presença Blade e Whistler em episódios lindamente caprichados, onde a trama de vampiros, inserida pelo personagem Morbius, foi muito bem aproveitada. Até mesmo a origem de Blade e o drama de sua mãe foram lembrados. Felícia Hardy como a gata Negra foi outro acerto da série, que precisaria de uma heroína e um interesse amoroso para o Homem Aranha, e nisso ela não deixou a desejar. Sabendo dosar momentos em que a gata Negra surge para salvar alguém e dar uns sopapos nos bandidos com momentos de romance e inevitáveis crises com o aracnídeo, a história nos faz torcer para que a aliança dê certo e um passe a ter, por assim dizer, mais intimidade com o outro... nos fazendo esquecer se tratar de uma produção infantil. Nick Fury também aparece e toda sua trama envolvendo a S.H.I.E.L.D, e mais tarde personagens como Homem de Ferro, Capitão América, Doutor Estranho e até mesmo Máquina de Combate, todos com suas origens e características bem detalhadas, porém, não gostei da mudança de personalidade de um ou outro personagem. Nos capítulos finais é reproduzido o que seria uma adaptação do arco de histórias Guerras Secretas, tão popular nos quadrinhos, juntando alguns personagens que já apareceram no seriado, acrescentando a participação até então inédita do Quarteto Fantástico, em um conflito em outro planeta envolvendo o ser intergaláctico Beyonder e Dr Destino. Apenas a participação de Madame Teia não me agradou em nenhum momento na série, a personagem, a bem da verdade, não é popular, causa estranheza até mesmo entre fans do Homem Aranha. Além de arrogante, nos momentos em que aparece dispara uma groselha atrás da outra, eu a tiraria facilmente do desenho e substituiria suas participações por soluções mais simples e aceitáveis. De resto, embora muitos personagens importantes na vida de Peter Parker apareçam bastante, senti falta de Gwen Stacy. Outros personagens chatos também mereciam sumir, como Anna Watson.



Vilões: É curioso ver o rei do Crime como o principal vilão do amigão da vizinhança, sendo que na verdade ele é o principal vilão do Demolidor, mas a gente acostuma. Chamava minha atenção a maneira como inseriam esse personagem ´´tão realista e fácil de existir`` (na vida real mesmo, temos vários Reis do Crime) em um ambiente tão fictício dominado por vilões e equipamentos fantasiosos. Seus aliados e capangas fixos realmente são interessantes, como seu filho Richard Fisk, Smythe e Herbert Landon. Aqui Wilson Fisk é uma espécie de cientista sofisticado do Queens, diferente do criminoso gran fino da Cozinha do Inferno que conhecíamos melhor. Mas é claro que na série também existe a Oscorp e outros super vilões, fazendo ou não aliança com Fisk. Dos vilões mais conhecidos senti falta apenas do Homem Areia e Chacal. Até mesmo o Sexteto Sinistro aparece, porém com nome e formação diferente. É apresentado como Os Seis Traiçoeiros, formada por Doutor Octopus, Rhino, Mystério, Escorpião, Shocker e Camaleão. Apenas Dr Octopus e Mystério pertencem à conhecida formação. Tudo levava a crer que Electro, Kraven, o Caçador, Abutre e Homem Areia ficariam de fora do desenho, mas, com exceção desse último, eles aparecem, mas em contextos e momentos diferentes, nada que não seja pequenas alterações que qualquer adaptação costuma fazer. Contudo, uns inimigos tem destaque demais e outros de menos, e o pior é que nem sempre é merecido. Também me incomodou a origem de alguns e de certas ordens de aparição, como por exemplo, Duende Macabro aparecendo antes do Duende Verde, e o alter ego de Norman Osborn sendo tratado por um sub produto de Kingsley, quando todos sabemos que foi o contrário. Mesmo assim foi bom vermos Duende Verde em ação e o desdobramento de seu drama, envolvendo o legado imposto a seu filho Harry, com direito a todas aquelas confusões mentais que acometem o jovem, como já visto em outras mídias. Hydroman, vilão pouco conhecido, teve um destaque um pouco aquém do merecido, mas foi o responsável por um arco importante, a trama do clone da Mary Jane, outra grande saga dos quadrinhos, que mesmo sendo considerada confusa para alguns leitores, na animação foi bem adaptada e de fácil compreensão, eu particularmente vibrei com os poderes que Mary Jane ganhou. Mas os que mais me surpreenderam positivamente foram Mystério, Mancha e Morbius, que em minha modesta opinião tiveram participações cruciais para que a animação merecesse ser lembrada e amada. Vale uma menção honrosa também para o Caveira Vermelha, mesmo não sendo pertencente do universo do Aranha, pois além de ter sido bem retratado, foi capaz de incomodar o Capitão América pela simples sugestão de sua presença.



Conclusão: Quem assistiu a toda série animada sabe que é muito boa. Talvez um ponto negativo seja os primeiros episódios sem a participação de um vilão substancialmente importante, mas isso se você for chato... ou não, pois as historinhas envolvendo os Esmaga Aranha é realmente um saco. Os traços são simpáticos, lembram vagamente as produções da Hanna Barbera, e o estúdio responsável pelas animações é o japonês Tokyo Movie Shinsha. A trilha de abertura é um rock dos bons, composta pelo guitarrista do Aerosmith, Joe Perry, feita sob encomenda. Eu sou um dos que a considera uma das melhores trilhas de animação infantil americana. Não vou dizer que gostei de tudo que se passou no desenho, mas não é exagero dizer que é tudo muito bem feito, até a origem do herói foi contada, coisa que normalmente se omite em desenho animado, e a imagem do tio Ben não foi deixada de lado. Já foi espalhado pela Internet a fora que a produção enfrentou problemas com a censura, o herói simplesmente foi ´´proibido`` de desferir soco nos inimigos, mas é tanta aventura e cenas de ação que a gente nem percebe ou sente falta. Prova que as animações da Marvel têm qualidade e não precisam apenas desses artifícios para fazer uma boa história de super heróis. No entanto, a trama que se seguiu na série não foi amarrada e a animação termina com um final em aberto, para não dizer que não teve final, e talvez esse seja seu principal ponto fraco. Quem sabe o último episódio possa ser perdoado pela simples participação de Stan Lee em sua versão animada. 


terça-feira, 7 de agosto de 2018

O que achar das legendas explicativas dos filmes para deficientes auditivos?




Mais de uma vez vi no cinema um filme que, apesar de dublado, tinha legendas. Ok, são as conhecidas legendas explicativas para deficientes auditivos. Algumas vezes em casa também assistimos filmes assim no DVD, comparando o áudio com as legendas, que apesar de traduções bem parecidas, têm uma ou outra alteração de frase, trocas de palavras por sinônimos, e dependendo, até o conceito da frase varia, e isso torna a experiência de assistir filme desse jeito bem divertida. Mas no cinema isso fica mais bizarro que divertido, lembrando que o intuito é que os deficientes auditivos possam entender o filme, e essas legendas, desnecessariamente acabam se tornando explicativas demais. Entenda que o problema não são as legendas, e sim a maneira irritante em que ela narra coisas que estão acontecendo na cena que não precisam ser explicadas. Vamos pensar em uma história em quadrinhos, uma história onde balões, letras e onomatopeias fazem a função de palavras e sons. Nos filmes, linguagem visual mais próxima da realidade, as onomatopeias são dispensadas, porém, em uma cena de explosão, por exemplo, não precisaria de uma legenda cínica explicando ´´Som de explosão``. Nos próprios quadrinhos tem vezes em que as onomatopeias não precisam estar ali presentes, como em uma festa. O ´´Barulho de festa``, ´´sons de músicas``, ´´risadinha e cochichos animados`` são facilmente substituídos pelos próprios desenhos da cena, ou até mesmo umas claves de ré e de sol aparecendo flutuando pelo quadro. O mais irritante ainda é quando em uma cena de casal aquela maldita legenda teima em aparecer ´´Sons de sussurro``, ´´sons de gemido``, ´´sons de beijinhos``. Isso para mim destrói o clima todo da cena. Por que simplesmente os editores de legenda não se convencem de que a cena fala por si só? Duvido que não tenham entendido a cena como um todo sem ninguém para explicar. É hora de aprender a respeitar a expressão corporal dos atores que estudaram tanto para aprender a pôr em ação. 

Conclusão
Nos filmes, onde se tem uma estrutura narrativa rica e bem próxima da realidade, é mais fácil entender o que se passa sem a necessidade de didatismo. A origem dos sons já é tão bem retratada visualmente que se torna ofensivo até mesmo para os deficientes auditivos alguém explicando o que está acontecendo. Seria bom não tratar essas legendas explicativas como uma narração explicativa para deficientes visuais, essa sim precisa de um trabalho mais denso e completo. Para mim, como acredito que para muitas pessoas também, os deficientes auditivos já se bastariam só com a legenda normal.