quarta-feira, 9 de maio de 2018

Street Fighter The Movie - O Jogo baseado no filme, baseado no jogo


Acho Street Fighter: The Movie um jogo muito bom, pena que seja tão injustiçado. A adaptação para os cinemas do jogo de luta da Capcom não foi nenhum motivo de orgulho, ao menos sua adaptação para os games salva um pouco essa infeliz experiência. Se bem que é melhor você jogar esquecendo o filme, ficando apenas com a sensação de estar jogando uma versão realista de Street Fighter II, mais necessariamente da versão Super. Eu estranhei um pouco quando joguei pela primeira vez ainda na segunda metade dos anos 90, isso na versão para Sega Saturn, mas recentemente, jogando no emulador de Ps1, percebo que esse Street não é tão diferente assim, a jogabilidade é a mesma, os comandos, os golpes especiais, é tudo feito da mesma maneira que qualquer outra versão. Inclusive os golpes são bem fáceis de se mandar. Mesmo o filme sendo ruim, a escalação dos atores não tem nada de tão errado, e Street Fighter: The Movie acaba dando um rosto para esses personagens que estávamos até então cansados de conhecer em sua versão cartunesca. E para os produtores o lançamento desse jogo veio bem a calhar, pois acaba de uma forma ou outra promovendo o filme, despertando o interesse daqueles que não se deram o trabalho de assistir, ou fazendo os gamers considerarem dar uma nova chance ao filme depois de ver que o jogo é tão bom. Mas acontece que o jogo é melhor que o filme, e o que ambos tem em comum é apenas a caracterização dos personagens, e aliás, o filme está longe de ter esses golpes todos que tem nos games. 


O Jogo

Street Fighter II era um grande sucesso dos arcades lá no início dos anos 90, quem viveu a época lembra bem disso. Chegaram muios jogos parecidos para concorrer com essa inovação dos jogos de luta, e o que mais se destacou até então, que chegou a disputar com Street a preferência desse gênero, foi Mortal Kombat, apresentando elementos que nunca houveram antes, como os fatalities e gráficos digitalizados dos personagens, lembrando bastante Pit Fighter, porém bem mais próximo dos jogos do estilo de Street Fighter mesmo. Nada mais justo para a Capcom se inspirar nesse jogo também, lançando uma versão bem parecida, com personagens digitalizados e uma pegada mais realista. Para isso se uniram à Acclaim, a mesma empresa de desenvolvimento de games que tornou MK o sucesso mundial que passamos a conhecer, eu só não imaginava que na época tinham pego umas horinhas dos atores de Street Fighter: O Filme para digitalizar suas imagens e capturar seus movimentos. Significa então que desde o início pensavam em fazer o jogo, mas eu cheguei a pensar também que apenas aproveitaram a cabeça dos atores para usarem em corpos digitalizados de dublês ou especialistas em artes marciais, já que nem sempre os figurinos dos personagens correspondem com os usados nos filmes, e também é difícil dizer se os atores saberiam interpretar certos movimentos e golpes com precisão. Mas o jogo foi feito com capricho, para nenhum fan de Street Fighter II clássico botar defeito, com fidelidade de personagens, só que numa versão realista. A história tinha que lembrar minimamente a do filme, antes de começar o jogo é exibido um tipo de trailer com as melhores cenas do filme para vender o produto, e infelizmente, já que a história não é exatamente sobre o torneio de artes marciais que conhecíamos, não tem essa de cada um lutar em sua casa, e nisso os cenários estão bem diferentes, e para falar a verdade eu não gosto deles. Tudo bem que os cenários precisam ser os que tem no filme, a cidade de Shadaloo, selvas, essas coisas, mas seria bom se lembrassem pelo menos um pouco aos que estávamos acostumados. Um ou outro eu acho bonito, mas que ficaria melhor para personagens trocados, por exemplo, o cenário da Cammy ficaria uma boa para o Ken, e o cenário do Capitão Sawada cairia como uma luva para o Blanka, se bem que achei que ficou legal o cenário dele, o laboratório onde esse monstrão verde foi criado. Mas gostei do cenário do Guile, combinou com ele, mas não podia ser diferente, sendo ele o personagem principal do filme. Eu só substituiria a base militar lá do fundo por um tradicional caça parecido com a versão do cenário clássico, mas está valendo. De todos eles, o cenário que chegou mais perto foi o do Vega (O cara da garra, que por alguma razão está sem a máscara), gostei bastante. Alguns outros cenários ficaram até bons mesmo com a falta de comprometimento com a fidelidade aos jogos originais, como o do Balrog e do Bison, mas detestei o da Chun-Li, pobrezinha, ela merecia qualquer coisa mais caprichada. Mas a trilha sonora compensa a falta de harmonia dos cenários, de fato esse jogo tem músicas muito boas, ao menos dessa versão que joguei, como toda grande produção de Ps1 deve ter. Só pecava por uns bugs quando a música terminava e reiniciava, como se o ´´técnico de som`` errasse o botão da música e logo corrigisse apertando o botão certo, quem jogar esse rom vai saber o que estou falando.


Personagens

Todos os personagens da versão Super estão presentes, com exceção de Fei Long (que não tem no filme), Thunder Hawk (que até tem no filme, mas está bem descaracterizado, e muito sem graça por sinal) e Dhalsin (que no filme é um cientista ´´nada a ver`` que não teria o menor encaixe nesse jogo).  Mas no geral, todos estão bem parecidos, salvo uma ou outra diferença. Balrog não é mais uns dos chefes finais de Bison, já que no filme ele não é um vilão da Shadaloo, apenas o cinegrafista da repórter Chun-Li Zang, e Dee Jay e Zangief passam a ser considerados os chefões finais de acordo com a história do filme. Particularmente adorei o Dee Jay, bem fiel ao Super Street Fighter II clássico, dessa vez com uma vibe mais psicótica, até mesmo por ser o vilão da vez. Se antes ele era um jamaicano sorridente, dessa vez ele continua sendo, só que agora seu sorriso dá medo. Seu cenário trocou o clima festeiro e musical por um clima mais tenso, mais soturno, além de ele continuar um ótimo lutador. Já o Zangief, tem aqueles que o consideraram mais magro e menos ameaçador, mas eu sinceramente não penso assim. Vamos esquecer do filme de uma vez por todas e pensar que essa é uma versão realista de Street Fighter, onde montanhas de músculo desproporcional não costumam existir com facilidade na vida real, e esse Zangief já é bem fortinho como uma pessoa normal que podemos conhecer por aí, em lugares como a academia, e o que é melhor, teve todos seus golpes respeitados. O Blanka também achei mais magro e menos verde que o original, mas é uma maravilha como conseguiram manter seus golpes originais com fidelidade e competência, e lembraram que, como ele era um soldado aliado de Guile, deveriam manter o calção camuflado que ele usava quando foi capturado e transformado, pequenos detalhes que fazem os gamers mais atentos ficarem pensando. Um importante personagem do filme que lembraram de acrescentar no jogo é o Capitão Sawada, outro aliado de Guile. Bom lutador, com golpes interessantes, não apareceu em mais nenhuma outra versão de Street Fighter, é difícil inclusive imaginá-lo em uma versão cartunesca, mesmo assim é lembrado por muitos gamers, até por aqueles que não gostaram nada do filme, já que sua participação no jogo o tornou um dos lutadores preferidos. Fiquei sabendo por aí que existe um código secreto de botões, e bem fácil de fazer, para liberar o personagem Akuma no menu, e pelo que vi em ação está bem caracterizado, bem realista, mas sem perder a essência selvagem e seus golpes especiais, inserido gentilmente no jogo mesmo sem sequer ter sido pensado no filme. Senti apenas um pouco da falta dos movimentos acrobáticos bem ligeiros da Chun-Li, ela me pareceu mais travada, mais comedida, porém sem deixar de ser uma boa lutadora. Talvez, por se tratar de uma versão mais realista, esses movimentos afoitos e turbinados não teria um bom cabimento aqui.


Por sorte, esse jogo foi lançado apenas para videogames de CD, com boa resolução e qualidade, portanto se distanciou bastante de MK, que, embora moderno para a época, os consoles para qual foi lançado não suportavam tanta memória e mesmo os personagens digitalizados de seus jogos ficavam com cara pixelizada. Street Fighter: The Movie tem toda um ar de filme mesmo, a trilha sonora de introdução, do menu da escolha de personagens, pena que tem o filme para comparar, e essa é a razão que muitos gamers bobos encontraram para hatear o jogo. Mas está ali, e podemos reconhecer, queridos atores como Van Damme e Raul Júlia em seu último personagem. Uma coisa interessante que percebi é que a digitalização é tão bem feitinha que podemos saber até mesmo o tipo de tecido que compõe a roupa dos personagens.
Já nos arcades, a recepção em grande parte do mundo não foi muito boa. Também pudera, sequer foi produzida pela Capcom, e definitivamente pareceram esquecer que ainda se tratava de Street Fighter. O que fizeram era um híbrido grotesco de Street Fighter com Mortal Kombat, com bem mais elemento de MK que de Street, só faltava os fatalities. Era sangue para tudo que é lado, movimentos ligeiros e péssima jogabilidade, alto grau de dificuldade, cenários chupados de MK, e uma agressividade nas lutas que é quase uma marca registrada do jogo da Midway. Só o fato de não ter Blanka nem Dee Jay, os preferidos de muita gente, já mostra que não pode ser boa coisa. Ainda empurraram um personagem novo mascarado a la Mortal Kombat, Blade, soldadinho insosso da Shadaloo. Para mim a única coisa interessante, mas não menos bizarra, é a magia em forma de dragão da Chun-Li. Por sorte, mesmo com a rejeição, foi lançada versões para consoles caseiros, dessa vez passando pela reformulação necessária, como lembrar que Street Fighter tem uma identidade própria e não precisa chupinhar outros jogos da geração. Ainda bem.


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