quarta-feira, 24 de julho de 2019

Muito além do último capítulo (reflexão)


Dizem que a vida imita a arte. Acredito que seja verdade. Em se tratando de artes narrativas, é necessário que haja o mínimo de verossimilhança para nos envolver e criar uma forte conexão entre obra e espectador. Portanto, é de se imaginar que a arte primeiro imita a vida, a seu modo, para que mais tarde possamos nos espelhar nela. Só que tudo que existe tem um final, tudo que começa termina, bem como a vida de todos nós, e mentes criativas podem optar por um final feliz ou não. É de se esperar o final feliz dos romances, porém, se o final não for feliz, dá-se a um pressão de que a obra não terminou, não teve final, e que um desfecho satisfatório pode ser aguardado mais tarde.  Essa seria então a dívida do autor para com seu público. Talvez um belo romance dramático amarre as pontas soltas, e com toda sua licença poética nos faça aceitar o desfecho proposto por mais doloroso que possa ser, mas sem esquecer de nos deixar uma boa lição a aprender. Mas, se analisarmos tecnicamente, nada, nem mesmo os romances, tem um final verdadeiro. Nossa vida mesmo, em constante metamorfose, não nos oferece um final feliz nem mesmo em nossa morte, pois nossa existência deixa consequências para o futuro, seja no seio familiar, seja para a sociedade. E afinal de contas, a morte não é nada feliz. No final de um filme, por exemplo, onde os protagonistas resolvem seus problemas, casam, tem filhos, enriquecem, etc, é consenso geral que o final foi feliz. Mas esse seria apenas um pequeno recorte de uma parte da vida desses heróis/personagens. A história termina, mas sua vida continua, e se olharmos por detrás dos panos temos todos os problemas que uma família teria, como brigas, separação, problemas conjugais, problemas com filhos, com dinheiro, e mais uma infinidade de questões a se seguir. Não é de se rejeitar totalmente a ideia de que o casal unido no final possa se separar mais tarde depois que a cortina do espetáculo já abaixou. Coisas que alguém possa achar que não existe ou não interessa, pois o filme acabou, o recorte da vida dos personagens que interessava não existe mais, e o mais racional a se pensar, esses personagens nunca existiram, faziam parte de uma obra de ficção de um artista. Ok, é verdade. Mas o que estou querendo dizer com isso tudo? É que, se na ficção tudo parece perfeito depois do último capítulo ou no final de um filme, na vida real, por mais que queiramos ter uma vida parecida, está longe de ficar igual. Pois não é oferecida à vida real os benefícios de um desfecho satisfatório, já que vivemos em constante transformação. Nossa vida estaria mais próxima de, digamos assim, sequencias infindáveis de obras de sucesso que se recicla a cada época.

Nenhum comentário:

Postar um comentário