quinta-feira, 14 de maio de 2020

Regina Duarte mereceu ser crucificada?


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A princípio não tive vontade de fazer um post sobre esse tema, mas, como esse blog se propõe a falar de todo tipo de manifestação artística e meus gostos especiais de um entusiasta de artes em geral, acho que um assunto tão recente tratando-se da ministra da cultura atual não pode passar despercebido. A entrevista de Regina Duarte para um programa da CNN divide opiniões. Longe de querer misturar com assuntos políticos e partidários, acredito que, desde o início, a mulher foi colocada numa saia justa por uma equipe jornalística pouco profissional, antibolsonarista, que sem se preocupar em não evidenciar perguntas tendenciosas, foi logo atacando com perguntas que fugiam à sua função. Não necessariamente Regina precisaria estar de acordo com propostas do partido com a qual trabalha, se já há muito tempo desejasse ter a oportunidade de propor suas ideias, direitos e deveres a toda uma classe artística, classe da qual faz parte há tantos anos. Como ela mesma disse, esse negócio de esquerda e direita é algo descabido, não passa de um rótulo. Não vou dizer que gosto da Regina Duarte como artista ou ministra, para mim tanto faz, mas é certo que suas propostas não precisam estar associadas com o sistema do governo Bolsonaro, é uma área totalmente específica, esse governo nada ou muito pouco entende de cultura, e se é sua chance de fazer alguma coisa nessa época tem mais é que aproveitar a chance. Ao menos a cultura dos dias atuais pode estar sob boa gestão, longe de toda sujeira e desordem do sistema político atual, e o que a Regina Duarte pode fazer é botar a mão na massa e cuidar do que pode. Ela foi duramente interrogada e criticada pelo sistema fascista brasileiro que se manteve até 1985, principalmente depois de ela falar sobre sua relação com o presidente. O jornalístico fez questão de frisar que o presidente enaltecia o poder e a ´´competência`` de coronel Ustra, em atividade no movimento e responsável por prisões e torturas de jovens, inclusive crianças. Mas, com sinceridade, esse assunto não cabe à Regina, com certeza ela não seria favorável a esse movimento, e ela não se referia a essa fala e a todas essas questões quando contava os momentos em que conversava com o presidente e este explicava as duras penas que enfrentaria aceitando o cargo. Pessoas normais não compactuam com as falas do presidente e menos ainda com o sistema político que o Brasil atravessou nessa fase, com certeza essa época vai ficar para trás sem jamais se repetir, lembrando que o primeiro passo que o Brasil precisaria tomar para voltar com a ditadura hoje seria tirar a internet do alcance de todos, veículo onde mais temos liberdade de expressão. Também não estou dizendo que sou a favor do governo Bolsonaro, apenas quero ser justo com aquilo que podemos salvar, se feito com boa vontade. Regina Duarte, com sua imagem bem viva de certas ´´Helenas`` de novelas do Manuel Carlos, quase todas ambientadas no Leblon, bairro do Rio de Janeiro, tem carisma, fala mansa, e esbanja a satisfação e a  simplicidade de uma pessoa feliz. Pode ser que ela não saiba se expressar muito bem, precisaria de um assessor, ela ainda é mais atriz do que ministra, mas é só com isso que ela peca. Mas é aquela coisa, você pode se enforcar com suas próprias palavras, as pessoas não perdoam, é normal se prejudicar por até muito menos. As pessoas não têm boa vontade de procurar entender ou ter apatia, pois julgar é mais fácil. Quando Regina mostrava-se ´´não ligar`` para as pessoas que morreram em épocas passadas pelo sistema ditatorial fascista, comparando com holocaustos e outros ditadores, ela queria dizer que era algo que ficou preso no passado, que nada mais podemos fazer além de deixar para trás e não reproduzir, que devemos ´´olhar para frente`` e pensar no que fazer para o futuro, dentro de sua função, projetos envolvendo a classe artística, logicamente. Afinal, o que essas questões teriam de ligação com o trabalho que a Regina vem fazendo, sendo que não tem nem mesmo com o governo Bolsonaro? A ministra não é desnaturada, não quer passar panos quentes, apenas dizia que nada mais poderia ser feito, e que, a partir de agora, devemos pensar em um futuro melhor, um futuro vivo, com artes e qualidade de vida. Sei que é um assunto sensível, que é preciso cuidado na hora de se pronunciar, mas mesmo assim, vivemos uma época em que precisamos ser solidários, tentar entender e encontrar um senso comum. Lembrando que a área da Regina é somente a cultura.
Quanto às doenças, essa pandemia que não podemos esquecer e todas suas mortes, inclusive de artistas, vítimas ou não do covid-19, Regina foi obrigada a tomar um posicionamento, e como grande parte do mundo, encontrava-se de mãos atadas. O que pôde fazer é entrar em contato com a família de artistas falecidos ou convalescentes, como qualquer pessoa de bem. Regina não é culpada pela disseminação de doenças ou por mortes, e como ela mesma disse na entrevista, não quer falar disso.  Mostra-se focada em trabalhar pensando na vida, recuperação, trabalho e artes. O que ficou para trás, o que não é de sua alçada, ou planos políticos que não influem no que ela pode oferecer, não estão dentro de sua proposta. Não adianta querer despejar na ministra todo seu descontentamento com a política no Brasil. Regina Duarte pode parecer sim aluada, dissociada da realidade, mas isso é apenas um reflexo de sua veia artística, acho que ela devia ser mais respeitada, tem todo direito de ocupar essa cadeira, atriz com tantas novelas no currículo, a eterna ´´namoradinha do Brasil``. Precisa de um crédito de confiança. Quanto a não querer responder o depoimento de Maitê Proença, foi só uma reação natural a um programa tendencioso que não avisa o que tem em pauta. Mesmo assim, acho que ela devia responder, com imparcialidade, independente do tema a ser analisado, como boa ministra que acredita ser, ouvindo e acatando as pessoas envolvidas em seu meio. Regina foi intransigente, geniosa, sequer ouviu o que a colega tinha a dizer, e essa é minha única crítica quanto a seu comportamento de ministra da educação. No mais, Regina não é a culpada por todas essas coisas ruins que vem acontecendo, culpem o governo Bolsonaro, os órgãos específicos, não o ministério da cultura.

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