Terminei de ver um
anime que, apesar de ser bem antigo, até então só conhecia de nome. Foi um dos
primeiros animes a passar no Clube da Criança, programa oitentista da Manchete,
e ainda no tempo da Xuxa como apresentadora, mas eu ainda era um zigoto
praticamente e não cheguei a aproveitar. Anos mais tarde o anime foi para a CNT
junto com outros clássicos, como Macross e Don Drácula, na programação infantil
noturna, um horário um tanto ingrato, e não me interessei em acompanhar.
Depois de assistir já
adulto, percebo a vantagem que foi não ter conhecido a animação quando criança.
Primeiramente pude experimentar, sem nostalgismo e de olhar maduro, essa animação
de qualidade, de roteiro sensível e primoroso. Depois, que eu iria simplesmente
desabar em lágrimas a cada drama explorado nos episódios. Sim, porque o anime é
uma sofreguidão só. Sendo uma produção dos anos 70 a animação tem todas as
características de produções da época, mesmo as americanas, como as da Hanna
Barbera. Seus traços, cores, visual dos personagens, todos usando roupas de
época e de calças tradicionais boca de sino, efeitos sonoros, e mesmo as
músicas. As músicas são ótimas, remete bem ao estilo da época, tanto de abertura
quanto das cenas de combate, e o curioso é que na trilha de Piratas tem até um
sambão. No nosso caso a dublagem ajuda a manter a padronização, como Cleonir
dos Santos (voz do Daniel Larusso, de Karatê Kid) como a voz de Jô, o mocinho principal,
piloto de acrobacias que se uniria a Rita, uma gailariana em fuga, no controle
do Pirata do Espaço contra a invasão do inescrupuloso exército do Império
Gailar, e as famosas vozes de José Santa Cruz e do saudoso Orlando Drummond,
para os vilões. Só que, diferente das produções americanas, Pirata do Espaço (Groizer
X no original) carrega em sua fórmula elementos tão presentes nos animes, dos
mais antigos aos atuais, como mortes, sangue e violência. Sim, muita violência.
Parece que no Japão a criançada é mais familiarizada com esse tipo de coisa e
as histórias dos episódios não se sustentariam sem isso tudo. A nave Pirata do
Espaço comandada por Jô e Rita se converte em um super robô de combate contra
os Robôs Bomba, naves de batalha comandadas pelos vilões do Império Gailar, que
têm o Imperador Geldon como líder. O pai de Rita, um cientista bondoso, foi
obrigado pelos seus até então companheiros a entregar o colossal Pirata do
Espaço, sua maior invenção. O cientista, no entanto, se sacrifica ao enviar a
filha para bem longe dos bandidos. Rita e a nave vão parar nas mãos da equipe
do professor Tobishima, veterano da segunda guerra e chefe da base aérea Akane.
Além de Jô, com quem passa a fazer parceria, a equipe conta também com o
mecânico Ippei, o garoto Sabu e o também veterano de guerra Baku, dono do avião
biplano Dragão Vermelho, fora tantos outros personagens que aparecem por
durante toda a série. Como um dos mais simpáticos cito Gen, um pescador doido
para ser piloto igual aos amigos da base Akane, mas que nunca conseguiu sequer
levar jeito para coisa. Todos eles vão mostrando, no decorrer da série, serem
dignos companheiros de Jô e Rita.
Mas nada é tão fácil
para nossos heróis. Muito sacrifício precisou ser feito, muitas lágrimas
derramadas, muito sangue, dor, perdas, sofrimento e raiva, muita raiva! Tudo
isso pode definir a série. Confesso que me emocionei bastante em muitos
episódios, e se eu tivesse visto quando criança talvez levasse anos para
superar. Mas como de praxe o bem vence o mal, entre as coisas justas da série
é revelado que o pai de Rita estava vivo, e o reencontro entre pai e filha foi
mais que satisfatório. Bem, isso depois de Rita já ter sido adotada pelo doutor
Tobishima, o que custou suor para ela decidir se aceitava ou não. Os dois
retornam ao planeta Gailar afim de retomar sua vida normal após o fim da grande
ameaça, mas deixam o Pirata do Espaço como mimo para Jô e a equipe do professor
Tobishima. Isso significa que entre o casal protagonista não existia nada além
de amizade, e honestamente prefiro o final assim, cada um para seu lado, sem
deixar a impressão de que homem e mulher não podem apenas ser amigos. E como
diria aquele policial do filme Velocidade Máxima, toda relação construída a
partir de uma situação de estresse tende a não durar. No entanto, a despedida
dos dois amigos não me comoveu, o que quase me fez chorar mesmo foi o episódio
da morte de Baku.
A série como um todo é
muito boa, sabe mesclar com perfeição momentos cômicos e momentos trágicos, sem
deixar de lado as cenas de ação e a motivação dos personagens. É muita coisa em
se tratando de animação infantil. Se você não conhece ou se viu há muito tempo,
não perca a chance de aproveitar todos os episódios em canais no Youtube.
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