Tem uma frase que me
irrita toda vez que escuto depois de criticar uma animação ou o final de um
filme infantil; ´´Esse filme é para criancinha``. A pessoa que diz isso
simplesmente justifica o fato de o produto ser uma total porcaria simplesmente
por ter sido direcionado ao público infantil. Como se crianças precisassem
gostar de coisas idiotas ou fossem elas mesmas idiotas. O Indivíduo que
subestima as crianças, ou não teve infância ou não lembra mais dela, ou pior,
acredita que a geração atual é de pessoas de menor inteligência, o que
culminaria em um futuro não muito próspero para a humanidade, afinal, a criança
de hoje é o adulto de amanhã. Você consegue se lembrar de quando era pequeno,
os programas que gostava de assistir e os heróis que queria ser? E agora eu
pergunto, você diria que hoje, ao revisitar essas criações, são coisas idiotas,
fúteis ou sem conteúdo? Pois eu diria que não, o que consumimos na infância e
que tanto contribuiu para nossa maturidade como indivíduos, moldando nosso
caráter e nos influenciando em atitudes positivas não merece ser considerado
como tal. Claro que se você for uma pessoa do bem.
Fator nostalgia: ver
com olhos adultos algo que tanto o encantou na infância é complexo. Pode não
parecer mais tão fascinante assim, provavelmente não vai mexer com você da
mesma maneira. Acredite, isso acontece. Mas isso não quer dizer que você vá
negar toda a importância histórica para sua vida, o ser humano é sensível e
fiel às suas boas experiências, não fosse assim, deveríamos nos preocupar.
Devemos nos atentar a que, enquanto adultos, enxergamos nuances que não
percebíamos quando crianças. Mesmo assim, não podemos nos deixar cegar pela
nostalgia a ponto de considerarmos obras atuais sem o seu devido mérito para
conquistar novas gerações, pois daí vem o preconceito e o descaso, o que leva a
achar tudo inferior. Mas será que, com toda sinceridade, as obras atuais
infantis no campo da animação, cinema e outras mídias têm tanta profundidade
como, por exemplo, filmes como O Mágico de Oz e A Fantástica Fábrica de
Chocolate, repletos de mensagens boas e lições de moral, sem deixar de ser bem
divertidos? É o tipo de produção que reúne pais e filhos, os chamados ´´filmes
família`` que faz questão de lembrar que todos nós fomos ou somos crianças, rendendo
bons assuntos mesmo entre pais e filhos e mestres e alunos. Que não envelhece
nunca, e se formos espertos devemos temer a ´´reciclagem`` desse material.
Por essa razão é triste
e preocupante ver com o olhar de um adulto que teve o privilégio de conhecer
boas produções de entretenimento, obras vazias, sem mensagens, super estimadas
pelo poder de viralização e de produções baratas, feitas por estúdios caça-níquel.
Pode ser divertido para uma criança, mas a longo prazo nada ou muito pouco têm
a oferecer, adulto que somos percebemos isso. Só querem lucrar com seu filho,
fazendo muito pouco. É triste, mas estamos em uma geração que lê pouco, o que
impera são jogos eletrônicos cada vez menores nas mãos de crianças de
concentração de peixinhos dourados, que chegam na adolescência cada vez mais
cedo e saem cada vez mais tarde. Videogames que nem precisa ser o mesmo que
estávamos acostumados décadas atrás, pois qualquer aplicativo simplório cumpre
essa função. O que então fornecer a essas crianças e lucrar com elas? É o que
pensa as grandes corporações.
Antes, a produção de
qualquer material infantil não podia ser idealizada por uma pessoa qualquer, e
sim por artistas de verdade, que conheciam bem esse universo. Será que um dia
teremos novos autores que representam pessoas de diferentes idades, como
Ziraldo, e autores de obras atemporais como um Monteiro Lobato? Ou ao menos
obras que acompanham o processo evolutivo de uma pessoa desde a tenra idade,
tornando-se assim um entretenimento inteligente para toda a família? O que
vemos por aí são sempre os mesmos, e com isso eles são cada vez mais
importantes, pois são tudo que temos.
A triste conclusão que
tenho é que dispomos de boas opções limitadas para os pequenos. De resto, temos
aos montes. Tentar se ajustar ao que hoje é tendência é desonroso
artisticamente, como o que faz Maurício de Souza, personalidade importantíssima
para a cultura de nosso país, com sua tendenciosa série de gibis Turma da
Mônica Jovem. Mas, como é o dinheiro que move o mundo, é mais que compreensível.
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